2021 - On going
GRANDE ENCONTRO
Henrique na Bicho Preguiça
Quando dei por mim, já estava no caminho da floresta.
Sempre soube que era um bicho do mato. De família com forte laço no interior da Bahia, fui levado ainda com um mês de vida para a fazenda de meu avô, na região de Itaetê. Foi neste espaço, mais precisamente no curral, que meus pais enterraram o meu cordão umbilical. Conta a minha mãe que, segundo crenças populares, o gesto traz sorte e fortalece a relação da criança com a terra. Só fui entender mais tarde.
A infância passou. Me tornei um garoto da cidade e a relação com a roça se reservou aos festejos e aos feriados de São João. Com o tempo, a minha curiosidade se reavivou. Passei a visitar com crescente frequência as terras que habitava na infância. Questionador, minha atenção voltou-se às relações intrincadas da roça, principalmente no que tange a ligação das pessoas com aquele espaço e com os modos de produção vigentes. Percebi que a pecuária extensiva, praticada pela família há dezenas de anos, não permitiu que a região prosperasse; ao contrário, o solo se tornou mais pobre e as chuvas mais esparsas.
Por não encontrar abundância na agropecuária, pelos meus olhos e através dos livros, via que o dia depois do abate era o deserto. A existência não faz sentido se não for para aprimorar, deixar melhor do que antes, com mais vida e riqueza para o dia seguinte. O agronegócio representa um grande desafio para os nossos tempos. Hoje, é uma das atividades que mais degradam o meio ambiente e a que mais consome recursos hídricos.
Foi numa pequena cidade, ao sul da Bahia, que dei o primeiro passo. Entrava, pela primeira vez, em um sistema de cultivo conhecido como Agrofloresta. Deslumbrante.
Naquele momento, algo mudou em mim.
Lembro que me perguntava: como ser produtivo - gerando recursos e renda -, mantendo o ambiente mais rico e vivo?
A riqueza das florestas de frutas, dos mais diversos tamanhos e origens, me lembraram de uma infância que não vivi, um sonho descrito como paraíso. É possível ser real?
A partir daí, me propus alguns questionamentos: qual futuro queremos construir na agricultura? É possível produzir em quantidade, respeitando os limites da natureza? Por que conhecer a sintropia é essencial para construir um mundo regenerativo e sustentável? Iniciei as pesquisas e passei a conhecer as histórias e as agroflorestas de produtores engajados no tema.
Em um novo capítulo desta busca, viajei para a Fazenda Bicho Preguiça, localizada em Açu da Torre, também na Bahia. O convite veio de André Arista, agricultor e arrendatário da terra. O intuito? Acompanhar e conhecer um dos mestres da Agricultura Sintrópica, Henrique Souza. Agrônomo, agricultor e professor, ministrou uma grande aula e inspirou um olhar sintrópico ao mundo.
Quem se debruça sobre o tema da agricultura familiar e da agrofloresta neste país de proporções continentais?
Aqui, apresento um recorte sobre o tema - urgente e indispensável no debate de novas formas de produção e consumo.​​​​​​​
Back to Top