Isete
2020 - 
Isete é um livro em aberto, é a minha vontade de ta perto de quem eu mais amo e conheço, minha história viva, ancestralidade que vem dos pés ao sorriso. 
Fotografar a minha vó durante alguns meses em que morei com ela antes da mudança da casa e poder acompanhar parte da sua vida com 82 anos.
Permito-me convidá-los a atravessar memórias - pelo passado, presente e futuro das nossas vidas. Afinal, recordar nossa querida Isete, mais do que homenageá-la, significa manter a história viva.
Inicio essa obra dizendo que a história de minha avó é um livro aberto, escrito com mais sorrisos do que lágrimas. Uma vida cheia de batalhas, dificuldades e, sobretudo, superações, que se denunciam no sorriso meigo que carrega desde os tempos de menina.
Mergulhar nas memórias de vó Isete tem sido um ato cheio de emoção e autoconhecimento. Reviver suas lembranças com meu falecido avô João, poder ver as cartas - praticamente intactas, guardadas desde o dia que ele foi embora - e as fotos da paixão deles, foi um encontro com minhas raízes.
O que se sabe sobre minha avó é que, ao longo da sua jornada, foram superados muitos obstáculos e tristezas. Na infância, sofreu com as crises familiares e as questões de saúde enfrentadas pela mãe; na juventude, os anos sozinha no preventório; e na fase adulta, vivenciou a perda de muitas pessoas queridas – seu marido, irmãos e amigos próximos. Essas dores jamais foram esquecidas e não serão apagadas, afinal, também fazem parte de quem Isete é hoje com 80 anos.
A palavra que mais vibra quando converso com ela é o cuidado. É possível notá-lo desde sua escolha profissional, com a formação em enfermagem, aos anos dedicados à educação. No cotidiano, esse cuidado também está presente no capricho da faxina em tempo de pandemia, nos bolos deliciosos feitos com tanta perfeição, na atenção com seu companheiro Pedro, no zelo com suas coloridas flores, na criança sapeca que desponta nas brincadeiras, na alegria ao receber convidados para a canastra dos fins de semana e nos mais diversos momentos na inesquecível G9, casa que residiu há 16 anos e agora está se despedindo.
Isetinha sempre encontra motivos para se manter alegre. Observando-a, percebo como a serenidade com que ela lida com as dores e fraquezas do passado a tornam uma pessoa mais leve, mais livre, mais feliz e forte.
Esse pequeno ensaio sobre Isete é ponto de partida. É o passo inicial para viver ainda mais momentos mágicos com minha avó e com minhas raízes. Para que possa aprender e levar comigo e assim, para meus posteriores a nossa história.
Viver é um desgaste que pode nos trazer feridas eternas, fingir que elas não existem não é a solução para eliminar nossas angústias. Deste modo, anseio que a memória viva da matriarca sirva de exemplo para superarmos traumas, nos despindo das mágoas que carregamos durante a caminhada da vida, para que no final tenhamos mais motivos para sorrir do que chorar.
Desejo que este livro ilumine os nossos corações com luz e saudade.
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